Detlev Schöttker na UFF

Detlev Schöttker é um renomado especialista na obra de Walter Benjamin. Domingo passado, em almoço com Adalberto Müller e Susana Kampf Lages, pude constatar também que, como todo grande intelectual, Schöttker é modesto e acessível.  Eu e Adalberto estamos traduzindo seu ensaio “Benjamins Bilderwelten” para o Seminário (mini-curso) que ele oferecerá na UFF entre 17 e 19 de agosto, no curso de Letras. O evento é aberto, e os interessados podem se inscrever pelos telefones no folder abaixo.  Acho que vale a pena também para os comunicólogos de plantão.  Não são muitas as oportunidades que temos por aqui de travar contato com um pesquisador desse calibre.

Curso PPGC UERJ – Introdução à Teoria da Mídia Alemã

Começa hoje o curso “Introdução à Teoria da Mídia Alemã”, no PPGC UERJ.  Parece que teremos mais alunos de fora (UFF, UFRJ) do que da própria UERJ.  Nenhuma novidade.  Quem poderia esperar muita popularidade com um curso sobre autores alemães e recheado de filosofia?  Mas precisamos ser fiéis a nossas obsessões alienígenas; não somos nós que as escolhemos, elas nos escolhem.  Comum e mediano querem dizer, no fundo, medíocre. A academia é isso aí: popular mesmo só o Ferris Bueller, que, contudo, de 1986 para cá já foi quase que totalmente esquecido – e  não é esse o inevitável destino de tudo e de todos na era da amnésia radical? Então vamos lá, começar da maneira mais heterodoxa possível, com os herméticos textos de Walter Benjamin sobre a linguagem (sim, nada do já surrado “A Obra de Arte na Época da sua Reprodutibilidade Técnica”).  O importante é marcar uma posição, construir percursos não hegemônicos, balançar o sistema, ainda que com apenas um leve empurrãozinho.  Determinados caminhos escondem riquezas que não são facilmente acessíveis e exigem certa ascese do espírito.  O único professor que realmente admirei em meu percurso na UCLA, Efrain Kristal, sabia muito bem disso.  Disse-me uma vez após um almoço em exótico restaurante peruano: “Erick, não ceda à tentação da facilidade; não entre nessa mistificação dos …” (as reticências se referem a determinada escola intelectual muito em voga nos EUA em meados da década de 1990.  Kristal era humanista clássico, daqueles que transitam facilmente por vários universos linguísticos e culturais, mas resistem a toda forma de modismo acadêmico).  Com Kristal, lembro-me de ter feito um curso sobre teoria da tradução, um comparativo Borges-Kafka e um dedicado exclusivamente a Ruben Darío e o modernismo latino-americano – uma experiência de aprendizado que valeu mais que todo o resto dos três anos de doutorado em Los Angeles.  Formei-me em jornalismo e fiz mestrado em Comunicação, mas decidi por dois doutorados na área de Literatura.  Às vezes perguntam-me o porquê desse desvio, ainda mais considerando o fato de que hoje trabalho, novamente, no campo da comunicação.  Ocorre que considero de uma estupidez colossal fatiar saberes como se fossem pedaços de bolo distribuídos em festa de casamento.  Aliás, a especialização excessiva é outro indicativo da mediocridade.  Mas voltemos ao que interessa.  O curso do PPGC começa com um breve histórico do pensamento alemão sobre a mídia (cuja importância tremenda hoje está algo esquecida, devido ao ridículo preconceito nutrido contra a Escola de Frankfurt por aqueles que não a conhecem); segue passando por Zielinski e Kittler, continua por Vilém Flusser, Wolfgang Ernst e Sybillle Krämer e termina com a internacionalização das novas teorias alemães no trabalho de pesquisadores de cibercultura como Galloway, Manovich e Bolter.  Todos os textos lidos em boas traduções em inglês, português ou espanhol, e a maioria em formato eletrônico (PDF), de modo a evitar o incômodo da xerox e trabalhar pragmaticamente dentro do registro teórico que nos interessa – o da digitalização de todos os suportes.  Primeira tentatiza de sistematização das experiências do pós-doutorado no Arquivo Flusser em Berlim, estou trazendo de lá centenas de textos inéditos do pensador checo-brasileiro, aos quais os alunos terão acesso na forma de documentos escaneados.  Até onde sei, será a primeira vez que muitos desses textos serão lidos no Brasil no âmbito de um PPGC – arqueologia da mídia!  Minha aposta é de que será um percurso apaixonante e enriquecedor, para mim como para aqueles que o trilharem comigo.  Como dizia o velho mestre Guimarães Rosa, numa frase que não me canso de repetir: “mestre não é apenas aquele que ensina, mas também que aprende”.